"Os sujeitos são cada dia mais compreendidos como influenciados pelo que está na sociedade, bem como também são formadores desse meio social que os afeta. As experiências culturais e as interações familiares são bons exemplos desses constituintes sociais. Os pais podem contribuir ricamente para a saúde mental dos filhos, agindo no intrapsíquicodeles. O jornal eletrônico El País recentemente entrevistou o educador Rafael Guerrero Tomás, doutor em Educação e especialista em transtorno por Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), transtornos da aprendizagem e transtornos de conduta. Segundo ele, é importante que atendam-se quinze necessidades para que os pequenos tenham uma boa saúde mental. E tal pensamento é extensivo a todos os que têm alguma criança ou algum adolescente sob seus cuidados, como parentes e professores. Tais cuidados são inclusive adequados a contextos particulares, aos portadores de necessidades especiais, sejam elas físicas, psicológicas ou cognitivas.
Para iniciar a conversa, um aspecto fundamental deve ser considerado: o ser humano tem dificuldade de separar desejos (aquilo que se quer) de necessidades (aquilo de que precisa). Essa confusão, que aparentemente mostra-se boba, gera pensamentos enganosos do tipo “Preciso daquele emprego para realizar-me”, “Só casando serei feliz” ou mesmo “É imprescindível que eu vá para o carnaval da Bahia”. Ok, a sua vontade de cair na gandaia em Salvador pode estar latente, mas isso está longe de ser uma necessidade, algo que seja básico para a sua sobrevivência. Em grande parte do nosso cotidiano estamos saciando vontades, usufruindo coisas supérfluas cuja falta não nos ameaçaria a sobrevivência.Uma teoria amplamente aceita no mundo para entender o princípio da necessidade é a Pirâmide da Hierarquia de Necessidades de Abraham Maslow. Ela trata da hierarquização das necessidades humanas vitais, ou seja, as condições necessárias para que cada ser humano atinja a sua satisfação pessoal e profissional. As necessidades são interdependentes e vão desde as mais básicas e instintivas (as biológicas, como: a fome, a sede, a respiração, a excreção, o abrigo, o sexo, o descanso) até as mais complexas e menos instintivas (as psicológicas, como: o indivíduo focado, persistente, que faz o que ama, independente e com autocontrole de suas ações).
Eis as quinze atitudes que contribuem para a saúde mental dos filhos (crianças e adolescentes):
1) Demonstrar carinho: Dizer diariamente o quanto ama o filho, que senti orgulho ou saudades. Não basta pensar. Diga! Isso fortalece a autoestima.
2) Ensinar a regular as emoções: Os pais precisam ensinar os filhos a identificar e a gerir as emoções, para que na idade adulta possam se autorregular emocionalmente. É necessário antes que os pais saibam como regular as próprias emoções para que possam ensinar isso aos filhos. Buscar ajuda profissional, se necessário for.
3) Tempo com qualidade e quantidade: A ideia de que crianças precisam de pouco tempo de qualidade dos pais é falsa. Elas precisam de muito tempo de convivência ( ou seja, quantidade), e com dedicação máxima (ou seja, qualidade).
4) Oferecer a eles contextos de segurança e de proteção: Proteger os filhos quando sentem medo, temor, raiva, tristeza ou alguma emoção desagradável com a qual não saibam lidar sozinhos é função dos pais.
5) Sintonia emocional: Consiste em estar receptivo diante das necessidades da criança. É estar conectado com as emoções dos filhos, compreendê-las e legitimá-las. Exemplo: sempre que o filho mostrar seu medo e raiva diante de uma situação concreta, o pai precisa compreender e atender o que se passa com seu filho, estando receptivo, ajudando a compreender o sentimento e a como lidar com ele.
6) Responsividade: Consiste em dar à criança o que ela precisa. Não consiste em realizar seus caprichos, mas em realizar e cobrir suas necessidades. Exemplo: Se diante de um relato angustiado do filho de desentendimento dele com um colega, os pais dizem que não enrole mais e vá fazer a lição de casa que é o que importa, esses pais não estão sendo responsivos, não estão atendendo uma necessidade dele.
7) Assumir o papel que corresponde como pais: Os pais devem assumir o papel de pais de fato na vida dos filhos, e não o de amigos complacentes ou de criados subservientes.
8) Estabelecer limites claros: Uma das obrigações dos pais é implantar uma série de normas e limites no contexto familiar. Os filhos precisam de regras. Quando limites são estabelecidos e explicitados aos filhos, é como dizê-los “Amo você” e “Cuido de você”.
9) Respeitar, aceitar e valorizar: Quando há respeito e aceitação reais, os pais aceitamos filhos como são e os avaliam positivamente. Então precisam demonstrar que esse amor é incondicional e não depende de algo para existir, como resultados acadêmicos positivos ou bom comportamento, por exemplo. Essa valorização determinará a autoestima no futuro.
10) Estimulação suficiente e adequada: Hoje sabe-se que bebês não precisam de estímulos muito constantes, pois para que desenvolvam-se plenamente basta viver em um ambiente seguro e lúdico, assim como crianças precisam de uma estimulação suficiente e adequada na educação. Passado esse mínimo de estimulação cognitiva, não há maiores aprendizagens, mas exatamente o contrário – exigências e estresse. Não adianta hiper estimular os filhos na esperança de que desenvolvam-se intelectual mente acima da média.
11) Favorecer sua autonomia: Isso acontece quando se estimula a curiosidade, a independência, o espírito aventureiro (natural nas crianças) e inovador dos filhos.
12) Sentido de pertencimento: O ser humano precisa se sentir parte de um grupo. É importante que os filhos pertençam a, no mínimo, um grupo, se não de mais. Deve-se trabalhar para favorecer o âmbito social, pois isso reverbera no processo da educação formal institucional. É comprovado que crianças vítimas bullying geralmente não pertencem a nenhum grupo na escola.
13) Favorecer a capacidade reflexiva da criança: É importante que ajude-se os filhos a aprender a pensar sobre as emoções que sentem, o que pensam, como se comportam, como vivemos, como progredimos, o que nos acontece etc.
14) Identidade: Favorecer nas crianças a identidade própria que diferencia-as do restante das pessoas, e que quando bebês não tínhamos em relação às nossas mães, que eram imaginadas como uma extensão.
15) Magia: Tudo o que tem a ver com a magia, o oculto, o divino e o fantasioso é algo que cativa todas as crianças e serve como um mecanismo de defesa. O mistério significa algo que “encanta” as crianças. Infelizmente os adultos afastam-se desse lado fantasioso e lúdico, o que pode restringir seus universos emocional e criativo mais tarde. Quer um filho amante da arte, da cultura e do conhecimento? Começar embarcando no universo fantástico dos pequenos é uma boa partida. "
“É possível educar contribuindo para a saúde mental dos filhos."
Fonte da Pesquisa : Site A Soma de todos Afetos.
https://www.asomadetodosafetos.com/
Imagem: Foto pessoal.
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